Pesquisadores diversos ao redor do mundo se debruçam sobre as
narrativas bíblicas para, através da ciência, comprovar os relatos ou
desmistificá-los. Dentre os eventos que mais intrigam os céticos estão a
destruição de Sodoma e Gomorra, a caminhada de Jesus sobre as águas e
as dez pragas do Egito.
O portal Cracked
reuniu cinco teorias científicas que tentam explicar acontecimentos
bíblicos sob a perspectiva da ciência e, com a combinação de muitas
possibilidades, certificam que as narrativas podem ser reais.
Davi x Golias
O filisteu, descrito como um gigante, foi derrotado pelo então pastor
de ovelhas israelita com uma pedra e uma lança, que funcionava como um
estilingue. No livro “David And Goliath: Underdogs, Misfits, And The Art
Of Battling Giants” (“Davi e Golias: Azarões, Desajustados e a Arte de
Lutar Contra Gigantes”, em tradução livre), o jornalista Malcolm
Gladwell explica que há pistas nos versículos que falam sobre o
confronto que levam a entender que Golias sofria de acromegalia, uma
doença da glândula pituitária característica de pessoas muito grandes.
O fato de que Golias ia ao campo de batalha levado por um assistente,
de acordo com a Bíblia, pode ser uma prova de que o filisteu sofria de
acromegalia, pois a doença causa perda de visão. Essa teoria é reforçada
por uma fala do próprio gigante, que quando vê Davi, zomba: “Sou eu
algum cão, para vires a mim com paus?”. Como Davi portava apenas uma
vara de pastoreio, é provável que sofresse de visão dupla, outra
característica do transtorno.
Por fim, a forma como Davi derrotou Golias, com uma pedrada disparada
com seu “estilingue” contra a testa do gigante, também pode ser
comprovada. Para Gladwell, as pedras usadas por Davi tinham “duas vezes a
densidade das pedras normais” devido à composição química das rochas na
área do vale de Elah, e ele as estava disparando com uma arma que tinha
o “poder de parada de um revólver calibre .45”, e a pedrada certeira,
entre os olhos, derrubaria qualquer um.
Jericó, Sodoma e Gomorra
Jericó caiu quando os israelitas, liderados por Josué, conquistaram a
terra prometida após o rio Jordão a seco. Por dias, marcharam com a
Arca da Aliança em torno da cidade, tocando trombetas, até que no sétimo
dia os muros da cidade caíram.
Os cientistas apontam que a causa da queda pode ter sido um
terremoto, pois Jericó era localizada em um vale de rifte, uma área
considerada instável e propensa a atividade sísmica. O geofísico Amos
Nur, pesquisador da Universidade de Stanford, a descrição bíblica da
tomada da cidade é compatível com os terremotos registrados na região.
“Esta combinação, a destruição de Jericó e a interrupção do Jordão, é
tão típica de terremotos nesta região que resta pouca dúvida sobre a
realidade de tais eventos no tempo de Josué”, afirmou, em entrevista ao
jornal The New York Times.
Sobre Sodoma e Gomorra, a destruição da cidade com fogo vindo do céu
pode também ter sido causada por um terremoto. O antropólogo forense
Mike Finnegan descobriu na região restos de homens da Idade do Bronze
que morreram por esmagamento, indicando atividade sísmica bem perto do
tempo em que a história bíblica teria acontecido.
O tremor poderia ter colocado pressão sobre depósitos subterrâneos de
asfalto, que por sua vez poderia ter sido expelido com muita força, já
inflamado por incêndios na superfície, atingindo a cidade como uma
grossa chuva de fogo.
Essa teoria foi colocada à prova nos laboratórios de centrífuga da
Universidade de Cambridge, na Inglaterra, em escala, onde foi provado
que um terremoto suficientemente grande naquela região poderia fazer com
que o próprio chão sob as cidades se desmanchasse e as levasse para o
fundo do mar.
Jesus sobre as águas
A explicação encontrada pela ciência, considerando a região onde os
fatos narrados aconteceram, é bastante simples: congelamento da água.
Um estudo realizado por uma equipe de cientistas americanos e
israelenses chegou à conclusão de que as nascentes salgadas perto da
região apontada como o local como onde aconteceu o “evento dos pães e
dos peixes”, que precedeu a caminhada sobre as águas, somadas a períodos
de frio que duravam muitos anos formariam as condições perfeitas para
criar “nascentes congeladas”, que seriam pedaços de gelo logo abaixo da
superfície do mar da Galiléia, quase invisíveis para alguém observando
de longe.
Doron Nof, professor de oceanografia física na Universidade Estadual
da Flórida, nos Estados Unidos, classifica as chances de haver tais
camadas de gelo sobre a água no período da história bíblica como “muito,
muito altas”.
Ressuscitação
A ressurreição de três pessoas através de ordens de Jesus é vista
pelos pesquisadores como uma coincidência ligada ao baixo conhecimento
médico da época, que levava as pessoas a declararem outras como mortas
de forma precoce.
Como parâmetro, os pesquisadores apontam o livro escrito pelo
empresário inglês William Tebb no início do século XX, em que ele listou
219 casos de pessoas que escaparam por pouco de serem enterradas vivas,
149 casos de enterros prematuros reais, 10 casos em que os corpos foram
dissecados antes da morte por acidente e dois casos em que o
embalsamamento foi iniciado em pessoas vivas. Tudo porque acreditava-se
que estavam mortos.
O mesmo caso foi registrado há poucos meses, quando um queniano que
engoliu inseticida e passou mal a ponto de ficar como morto, acordou no
necrotério 15 horas depois de ter sido examinado e considerado sem vida.
Dez pragas do Egito
Diversos cientistas consideram que as dez pragas seriam a combinação
de diversos desastres ambientais. Um estudo feito por climatologistas na
composição de estalagmites em cavernas egípcias levou à conclusão de
que o faraó Ramsés II governou o Egito durante um período em que o clima
era quente e úmido, mas que sofreu uma mudança drástica, tornando-se
seco e ainda mais quente, causando a redução do volume de água do rio
Nilo e o surgimento de uma bactéria de água doce, que deixa as águas
vermelhas.
Como consequência, os sapos migraram da região, proporcionando um
aumento da população de insetos, que são transportadores de doenças, o
que fez com que todo o gado ficasse sarnento e fraco.
Sobre as pragas seis, sete, oito e nove, os pesquisadores acreditam
que elas foram proporcionadas por “uma das maiores erupções vulcânicas
da história humana”, quando a mais de 600 quilômetros do Egito, na ilha
grega de Santorini, o vulcão Thera teria vomitado bilhões de toneladas
de cinzas no céu.
Nadine von Blohm, uma física atmosférica, afirma que as cinzas
vulcânicas combinadas com trovoadas poderiam ter causado terríveis
tempestades de granizo, enquanto que o biólogo Siro Trevisanato diz que
essa maior umidade teria proporcionado um aumento exponencial na
população de gafanhotos, e os milhares de milhões de toneladas de cinzas
seriam os responsáveis pelas trevas.
A décima e última praga teria sido resultado de todas as anteriores,
pois tantas circunstâncias teriam contaminado os alimentos, e estes
seriam servidos, por questões culturais da época, primeiro aos filhos
mais velhos, os primogênitos, que terminavam morrendo por ingestão dos
alimentos envenenados.